quarta-feira, 15 de outubro de 2014

a luta constante de quem se permite amar.

existe na tua pele o toque inexplicável de alguém que não toquei. existe em ti a conjugação quase perfeita de todos os verbos que não vivi. existe a máxima que respeito e que se confunde no presente. existe em cada espaço teu um espaço meu que não ocupo. existes em omnipresença todas as noites em que te permito existires. em ti existe o dia, existe a noite e o crepúsculo. em ti existe a descoberta de novos mundos e a sina de os viver. em ti existe a luta constante de quem se permite amar. existo em ti e permaneço. e nunca a minha vida conheceu uma existência assim.

domingo, 20 de julho de 2014

não vou procurar quem espero, se o que eu quero é navegar.

é à noite quando a cama está fria que sabes e sentes o melhor que poderias ser. é à noite quando a cama está fria, quando a cólera te embalada e a distância te acalma que ouves tudo o que ficou por dizer. e no desespero embrulhado em medo perdes a noção do tempo que não tens, perdes os abraços que seriam abrigos, abandonas crenças que já fizeram sentido e acreditas que a dissipação do agora será cortesia do amanhã. podes não ter certeza alguma, podes nunca vir a ter certeza alguma. podes não saber esclarecer-te em nada, podes não imaginar um futuro melhor. mas não dês licença a uma incerteza maior que a razão de estar vivo. e não há maior razão do que o privilégio. o privilégio da inelutável força que te incita o sonho. que te estimula os dias. que te resolve em verdade, que se apresenta em amor. | não vou procurar quem espero, se o que eu quero é navegar |

domingo, 13 de julho de 2014

se pudesse escolher tinha nascido nos teus braços.

quero um sonho e quero viver outra vez. não acredito sequer que me faça mal aquilo que dói no retorno inevitável. é uma dor de regresso, preenchida e suportada pelo medo de falhar. na realidade somos ambos seres humanos e o impecável acontece quase sempre, e quase sempre é tanto tempo quando estás com quem amas. desfaço-me em pensamentos e nenhum existe sem ti. acredito que enquanto cresci ninguém me contou a verdade toda, ninguém me contou que seria difícil, ninguém me contou que só os melhores conseguiriam fazê-lo, ninguém me contou que amar não era apenas curar feridas mas que também incluía poupa-las. se pudesse escolher tinha nascido nos teus braços, para poupar tempo. para conhecer desde cedo o motivo da existência, para perder no meu primeiro instante todos os sentidos possíveis. para aceder ao descontrolo fatídico da alma. numa entrega total, a ti e ao mundo tambem. a minha cama está fria e tu estás ausente. mas está calor lá fora. o mundo espera-nos num abraço e se alguém acredita eu não posso contrariar esta crença. não mereço fazê-lo. efectivamente, bater com a porta é uma dor insuportável. mas foda-se, eu não conheço esta acção. creio apenas que voltar representa a sensação mais bonita de um todo que nos envolve.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

todos nós pertencemos a estrelas.

na permanência dos instantes onde te encontro em cada falha minha descubro a estabilidade que eu próprio decidi em mim. não havia tentado antes deixar ficar o inconcebível. a imaterial relação que mantenho presente numa órbita que é tua seria uma trajectória até então desconhecida, na qual hoje não tenho qualquer receio de vaguear. é involuntário. cedo ao mais íntimo desejo de ti e permito-me tocar no fundo. no fundo de nós. no reentrante abraço em que conquistaste fragmentos meus. onde desisti por completo de uma entidade particular e ofereci o poder inesgotável do degustar da pele que é minha. só minha. em parte tua, enquanto margem iminente para o amor acontecer. eu não sei se um amanhã será assim, eu sei que o hoje é assim. e o hoje pertence ao amanhã e pertence ao ontem tambem. e todos nós pertencemos a estrelas. e a fusões. e a cedências. e recapitulando uma mesma história: talvez exista uma estrela com o nosso nome cravado.

terça-feira, 1 de julho de 2014

se eu quiser, não será Inverno.

entre um nada que é tudo e um tudo que significa nada, nunca sei em qual dos dois te deva deixar ficar. por alguma razão que até hoje desconheço ficas sempre num dos lados a favor da inconsciência. e deixo-te permanecer até o Inverno chegar. enquanto existe Verão fode-me todos os dias. enquanto o ambiente está quente não me deixes dormir sozinho e sempre que sentires Inverno não deixes o tempo passar. vamos estar aqui. fazer aqui. ser aqui. tudo aquilo que descrever uma estação que é só nossa. em tudo o que nos lembrar o porquê de permanecermos. geralmente nunca sei a acepção com que me assistes, mas sei que amo cada traço que tenho teu. mas sei que existo no instante doloroso em que me tocas. e sei que amanhã, se eu quiser, não será Inverno.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

pelo menos no coração.

a tua vida não vai ser causa para mais que isto. nem necessitas que assim o seja. afinal estás aqui para tudo e para nada, simultaneamente para o tudo e para o nada. e recordaste disso apenas de quando-a-quando. não tenho mais pele que aquela que te ofereci para rasgares em propósitos teus. nem gemidos pelas exaltações que antecediam cada cigarro fumado. é a única razão que me mantém por perto. o amor. o laço que une até mesmo aquilo que à vista parece não pertencer a uma unificação possível. e todos sabemos que destruí-lo não é um encargo assim tão difícil … não merecia uma atenção especial se nele não depositássemos uma destreza incomparável a tudo o resto. anuncia-nos que de alguma forma é magnífico, sumptuoso e pertence a alguém. e a esse alguém só é pedido que o preserve intacto. pelo menos no coração.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

que eu nunca queira terminar este texto.

que nunca nos falte o que não temos. e que os dias nunca sejam suficientes para o desejarmos. que nunca mudes a minha sede de infinito. e que eu nunca queira terminar este texto. que em cada palavra dita esteja sempre o sangue fervente. que eu nunca perca o amor por ti. que eu nunca o permita. que nunca escreva 'nunca' em vão, por mais nunca's que tu me cedas. e que seja sempre um motivo para continuar no mesmo jogo que me propus vencer. será sempre sob uma melodia tua onde edificarei um presente plural. e nunca será sinónimo de nada que tenha existido antes, a ocasião não será certamente a mesma. o momento nunca será igual. por mais palavras que te escreva, nunca será o quanto baste para me completar em ti. pelo tamanho estúpido com que te represento. pela quantidade de insistências em que te tornas válido. ou pelo orgasmo múltiplo em que te autorizo liquidar. uma dívida que nunca será saldada, pelo resultado dos nossos corpos continuarem contraproducentes.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

heróis não nos faltam. faltam-nos guardiões.

"Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir. Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades. Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter. Percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer. Haverá verbo mais bonito do que «salvaguardar»? É fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. |heróis não nos faltam. faltam-nos guardiões| Criar é fácil. O difícil é continuar."

Cardoso E, Miguel.

terça-feira, 22 de abril de 2014

aprendemos a abandonar, juntos.

seria a vontade primogénita de acordar de modo diferente o que nos faria prever um abraço mútuo no final. assim como a repugnância ao exterior ilustrava a fuga perfeita. o argumento que nos permitia ficar e sermos tudo aquilo que nos apetecesse ser um para o outro. sem recearmos perder qualquer coisa num amanhã próximo. acho que aconteceu porque ambos tínhamos uma opinião formada em tempos anteriores. no resultado de derrotas passadas apercebera-mo-nos de vitórias comuns. soubemos até conquistar lugares diferentes. construímos pertences em realidades difusas, numa criação constante de mundos desiguais. perante uma analogia de prismas onde nos foi permitido viver e construir. e alguns amores que aprendemos a abandonar, juntos. Não significa uma pertença a um lugar quando o conservamos em nós na base de um medo de perda imutável. quando nos deixamos apegar à misera instância que existe sob a penitência que nos une a um momento. o resultado será sempre o mesmo: uma mortificação de um Eu que nenhum de nós merece sentir.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

o medo em muitos sentidos.

no caminho absurdo dos teus olhos eu sei que nunca estive em ti. ou nunca estiveste em mim. ou nunca tivemos um desejo mútuo de sermos ambos. em dois. construímos em dois as vidas que os dois não permitimos juntar. e separámo-nos pouco depois da nascença. é verdade quando a tua mão no meu peito dizia que havia em mim coisas inexplicáveis. era tudo verdade em mim. era verdade quando não sabia o que dizer. era verdade quando não te mentia sobre todas as ausências em relação a ti. era um fluxo que eu não tinha capacidades para acompanhar. uma carga que nunca quis ter nos meus ombros. porque sempre conheci a necessidade de uma janela aberta por onde pudesse saltar a qualquer momento. sempre que a fuga ao coração fosse um requisito máximo. um compromisso de sóis. prevejo em ti o apetite que me alimenta por dentro, mas não o podes proclamar Amor. isso é quando não precisas de apetite. é quando ao teu lado a obra-prima não está completa, mas tu venera-a mesmo assim. é quando te rouba pedaços de ti, mas tu cedes para desfrutar. quando completas um Outro. quando não te é pedido, mas tu dás. quando conheces de olhos-vendados mas ainda pensas que nem tudo está à vista. quando alguém diz que "o Amor haveria de curar o medo em muitos sentidos e haveria de conferir sentido à vida".

sábado, 22 de março de 2014

estás comigo em todos os lugares vazios.

o grito de todas as manhãs ausentes. a euforia dos medos que ficam e dos pavores que de mim se querem soltar. o surto voluptuoso do que é amado sem se ter. em todos os enlevos violentos com que manifestaste a vontade de ficar. onde assentaste duas mãos manchadas a sangue, no corpo em que enterraste o poder da permanência. todas as janelas que permanecem abertas, à espera de um abandono à tua sepultura. a imanência de tudo aquilo que hoje não encerra e todos os feitos que com proeza aguentaste em mim. no presente, fazemos parte de todas as ausências. e tu estás comigo em todos os lugares vazios.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

amantes lúcidos.

passas uma vida inteira a tentar perceber aquilo que te motiva os dias e a razão primordial do teu bem-estar momentâneo. às vezes os outros, às vezes tu próprio. mas nunca a inexistência. não vivo por meios. por termos. se algum dia eu tiver de te entregar algo, entregar-te-ei tudo aquilo que é meu. entregar-te-ei o melhor de mim. faças com isso aquilo que fizeres, resta-me acreditar que farás o melhor. resta-me desejar que propagues em ti o relativo poder que exerço em cada passo teu. é me permitido querer que decidas em função de uma felicidade conjunta. sob a minha trajectória. e partilhar contigo tudo o que transformas em algo melhor. todas as manhãs que eu existo em sorrisos. cada lugar onde te encontro por instinto sem nunca ter de procurar por ti. eu por opção nunca aproximei do fogo um coração que com gelo havia construído. na esperança que toda uma irreverência fosse manipulada por alguém que não existia. hoje, perante a Elegia dos Amantes Lúcidos, digo que quero ter-te aqui. dono e senhor de tudo o que conquistaste.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

tudo meu, tudo teu. tudo nosso.

faltas tu, comando dos sonos confusos. faltas tu aqui, por um dia esquecido de tudo o que foi meu. por detrás do que já não tenho. por trazeres a mim, ou em mim, o inconsolável som do teu silêncio. sofremos todos os dias por crimes que outrora já foram amores. e sofremos todos os dias por momentos esquecidos que relembraram o que seria aquecer um coração adormecido. e o tamanho de tudo o que destruímos é agora tão pequeno. é agora o mísero suportar de um gemido que não é nosso. esqueceste que foste parte de alguém que um dia te quis pertencer. dá-me uma razão para não caíres por entre lembranças algures em mim. dá-me hoje uma razão para Ser. tudo meu. tudo teu. tudo nosso.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

e, se porventura

tudo se justifica em mim por saber que amanhã não vou ser digno de um abraço teu. a generalidade das minhas falhas, dúvidas e desesperos sucedem sempre o temível pensamento de não te manter vivo em mim. de não ser capaz dia após dia encender a vontade de me inundar em ti, ou de ti. de salivar por cada espaço que é teu e rasgar tudo aquilo que nos envolve. eu nunca fui aquele que se confundiu em embaraços. embaraços que eram teus. muito menos me ausentei de ti. embora me tenha anulado pelo privilégio de te ver triunfar. para que encontrasses o apoio incondicional na pessoa que eu sou. o apoio incondicional que um amante deve erguer. canalizei-te em mim. quis ser embalado por um percurso cujo final eu conhecia. deixei-me encadear por cada movimento teu. sabia que na realidade difusa e no limite deste lance, eu seria o coração que ouvirias bater, seriam os meus lábios que virias beijar e todas as injúrias derrubadas por ti. eu representar-te-ia assim a performance do amor. o símbolo máximo de um acto involuntário. amar-te-ia na melhor oportunidade que tivesse. e, se porventura, percebesse que amar ainda não sabia, serias tu o meu lancil. aceitava em nós uma troca de ideais, se disso dependesse a tua permanência. não há brilho maior que aquele que o amor inflama. nem futuros comprometidos quando decididos no coração.

palavras de uma musa portuguesa.

aqui, deposta enfim a minha imagem, tudo o que é jogo e tudo o que é passagem. no interior das coisas canto nua. aqui livre sou eu , eco da lua e dos jardins, os gestos recebidos e o tumulto dos gestos pressentidos. aqui sou eu em tudo quanto amei. não por aquilo que só atravessei. não pelo rumor que só perdi. não pelos incertos actos que vivi. mas por tudo de quanto ressoei. e em cujo amor de amor me eternizei. ¡andresen, s.¡

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

no dia em que o sol não nascer.

não me deixes sozinho no dia em que o sol não nascer. não te percas por entre o abandono absurdo de um dia regular, mesmo que seja uma ausência premeditada e pela qual fizeste questão de esperar. certas crenças aparam aquilo que és quando tudo o resto te separa do teu índole. esforçar-te-ás para um reencontro. para o aproximar de novo daquilo que representas, para te apresentares intacto. para que a segurança que tens em ti permaneça clara na mensagem que transmites ao mundo. porque nem tu nem ninguém, nunca, merece conhecer outro alguém que não seja o alguém que tu és. e tudo o que tu és, tudo o que tu és se exprime muito melhor quando vês o sol nascer.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

"há quanto tempo não te arde o coração?"

"há quanto tempo não te arde o coração?" e não te perguntes muitas vezes, para depois fugires ao sentir ardor. são poucos os momentos que consegues proporcionar no sentido de aceitares que isso eventualmente possa acontecer, mas eles estão lá. a verdade incondicional é que os agarramos poucas vezes. poucas vezes nos aceitamos frágeis, poucas vezes o queremos prolongar. poucas vezes permitimos acontecer. faz-me falta que às vezes não te sentes aqui. que não estejas onde eu possa estar. que não partilhes o que te pertence só para perceber que te mantenho aqui ao lado. ardia-me o coração. ardia pelo consumo e pelo controlo que tinhas em mim. ardia-me porque sem o permitir farias qualquer coisa que me deixasse desarmado, porque me sentia um pedaço de nada que facilmente seria destruído por ti. porque me sentia contigo. teu. fixaste as angústias dos corpos passados, numa pele que não conhecia o sabor de uma ilusão. em defesa cravei em ti forças vulneráveis que nem mesmo agora consegues desenterrar. fui parte do que construíste e percebo-o sempre que encontro um reflexo meu onde o teu cheiro ainda está intacto. onde ainda dói. lugares onde as lembranças pertencem ainda ao presente, porque diariamente as alimento no sentido de as conservar assim. nem mesmo se quisesses conseguirias tirar de mim esta sede de um infinito qualquer. deixa-te seduzir. deixa-te seduzir pelo amargo sabor retido num corpo que conhecias como um enigma, um enigma desvendado numa noite de conjecturas finais. elaboraste em mim todos os teus dilemas. deixaste pertences esquecidos que eu sou incapaz de guardar. sei que sou aquilo pelo qual lutei infinitas vezes. sei que sou o que sonhei de um futuro a dois, sei que sou parte dele. parte do que seriamos. e todos os dias me pergunto "porque é que hoje não me arde o coração?".