sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Pousado em Sonhos.

Vivo sobre rasgos do passado. Vivo sobre rasgos deixados à solta, libertos num tempo indeterminado, incontrontrolável, sob um êxtase ainda presente. Vivo
sobre as falhas que deixei expostas, sobre os mundos que ignorei, sobre as indeterminações inconclusivas de segundos que não vive. Inspiro os factos que nos dão força, expiro os acontecimentos imagináveis e faço de tudo para ser só eu. Faço de tudo para possibilitar uma escolha que me conduza ao mais profundo triunfo do que anseio ser.
Por caminhos quase indomáveis, trepo os muros da imperfeição, alcanço amostras do futuro e perspectivo o que poderá existir no topo.
Eu vivo pousado em sonhos. Vivo amarrado a fantasias. Vivo acompanhado por desejos que me impulsionam a ser feliz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As borboletas.

Sempre acreditei que era a essência de alguém que me faria sentir as borboletas. Havia momentos em que pensava que numa desordem de sentimentos seria essa a única certeza. A dúvida nunca existiu para mim sempre que a temática era esta. Um tema aceso sobre lume brando, livre para inflamar tudo aquilo que lhe é alheio. Livre para contemplar paisagens que não são suas. Livre para explorar vontades de outrém, para tirar proveito de desejos, alimentar-se da sua sede, invadir zonas restritas e cultivar sementes estéreis. É fogo com permissão para entrar e com o direito de sair. E sem estar à espera do início, nem mesmo do fim, deixamo-nos ficar petrificados, irreversivelmente imóveis, estupefactos sem reacção. Permitimos que nos levem o que éramos, ficamos com o que agora somos e, transformados em alguém, esperamos pelo que seremos a seguir.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mais-que-tudo.

De nada valia se tivesse acontecido de outra forma. De nada valia se eu tivesse fingido não ser esta a minha decisão final. De nada valia se as cores que eu usara, quando pintei a tela, tivessem sido moldadas, misturadas e fabricadas em função das tuas emoções. É verdade que pensei primeiro em mim. Eu iria sempre questionar-me, num acto de suplício, em relação ao que viria a seguir. Seria primordial querer saber e controlar tudo o que envolvia o mundo que coabitávamos, protegendo dessa forma a nossa realidade de vozes e movimentos, provenientes do exterior. Teria sido errado dizer-te que não quis assim. Se tivesse querido diferente, teria lutado num sentido oposto àquele que me encontro a percorrer agora.
Quis tornar claro, para mim mesmo, que vivia em função de uma série de materialidades que não deveriam ser um destaque. Deveriam corresponder a um vulto, quase invisível, que nunca teria permissão para chegar a mim. Eu quis iluminar pensamentos, que além de me ferirem, deixavam rastos que posteriormente te atingiam a ti.
A intensidade com que vivo hoje, não se compara com tempos passados. Com as inúmeras vezes que sorri espontaneamente. Com os olhares que queria depositar em terreno que a ti pertencia. Com os momentos em que prevalecera a ansiedade de querer encostar-me ao meu mais-que-tudo e unificar o tempo e o espaço, numa realidade fecundada e exacerbada em amor.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Só depois do apogeu.

Nascemos para morrer. Nascemos para um dia deixar tudo para trás e ser qualquer coisa que agora nos ultrassa na definição que lhe está implícita. Sabemos que sim. Sabemos que não são calunias ou invenções de estranhos. Até pode ser assim, mas só depois do apogeu. Só depois das infinitas vezes que sair da minha boca palavras que quero dirigir a ti. Só depois de eu ser sempre eu e nunca me esconder com medo que não entendas, que fujas, que te perca como alguém que perdeu a guerra. Só depois de te abraçar sob uma chuva de meteoritos que se viessem contra nós não nos importariamos, por já termos tudo, tudo o que poderiamos ter naquele compasso de tempo que delineámos para ser nosso. Nunca vais esquecer o que te disser. "Nunca vais esquecer, porque não terás tempo para o fazer", porque vou reproduzir o mesmo vezes suficientes para que nunca te falhe parte dessa memória.
Não me vou importar quando me for embora, desde que fique claro que o meu caminho foi traçado e delineado segundo pedaços que tambem eram teus. Não me vou importar quando me for embora, desde que fique em ti parte daquilo que sou e que cresceu enquanto estivemos unidos. Eu não me vou importar de ser mais uma estrela no céu. Eu vou ser a mais brilhante porque tenho luz suficiente, irradiada por ti, que me destaca num clima onde as estrelas são todas iguais. Eu não me vou importar porque ficou tudo feito, porque ficou tudo dito, porque senti até demais.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sem me despedir.

Foram dias passados a criar alguém que não correspondia ao que queria ser na verdade. Foram datas confusas e marcações feitas por mim num calendário que eu nunca consegui respeitar inteiramente. Às vezes fazemos tentativas falhadas na procura intensa do modo como devemos ou não agir. Talvez se não pensasse, as primeiras tentativas teriam sido aproveitadas e não deitádas ao nada como se de lixo se tratasse. Eu estive aqui e dei o meu melhor. Tentei erguer alguma coisa consistente que fosse idealizada pelos dois. Estive aqui em alturas em que me apetecia a fuga, mas deixei-me ficar,com medo de destruir a imagem que tinhas de mim. Estive aqui, mas já não estou. Sinto que dei o que devia, sinto que atinge o limite que por mim seria suportável e fui embora sem me despedir.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

No mundo dos sonhadores.

Construirei o Império. É assim que será feito. Foi assim idealizado. Haverá grandeza nesta realidade. Será do esforço das próprias mãos. É porque acreditamos na imagem da mente, que ela se desloca para o mundo real, é porque não nos ficamos pelas palavras que os actos ganham vantagem, é porque somos cavaleiros andantes que o nosso reino se ergue em fúria. Não deixo que fique em pensamentos aquilo que vejo como uma possibilidade, não pretendo desistir de mim quando acredito que sou capaz. É o prestígio da vontade que nos faz aumentar a nossa influência, é com ele que combatemos barreiras, é com ele que atingimos metas. A minha singularidade vai fazer-se sentir, vai permitir-se ver, vai surgir entre as demais e salientar-se com um brilho próprio. Nunca serei um entre uma multidão. Serei sempre parte integrante, associada, mas necessária e permanente no mundo dos sonhadores.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Um alguém assim.

É quando me dá mais vontade de expressar tudo o que sou. É quando o auge dos sentidos me motivam a subir a montanha mais alta e gritar aquilo que me faz ser eu. Quando os actos deixam de ser actos e os pensamentos ganham intensidade própria, eu sei que fui feito para os vencer.
Apetece-nos fechar a porta, aumentar o volume da música, esquecer que parte do mundo existe, ficar aos mimos ao gato e sermos só nós. E isso não nos traz nada senão pensamentos exaustivos e vontades absurdas que nos façam ser alguém diferente de nós próprios. Até podemos pensar no contrário, podemos imaginar que nada existe para além desta realidade momentânea e que o mundo é apenas por nós construído. Mas é errado. Mentira. Irreal. Os outros fazem parte, os outros são fusões de nós próprios porque nós os incentivamos a ser. Porque somos seres sociais e não conseguimos viver de outra forma que não inclua alguém presente. Alguém presente que diga qualquer coisa estupida num momento crucial. Alguém presente que transporte o nosso lado mais amargo e desabrido. Alguém presente que nos remeta uma crítica inconsulável, mas que sabemos que temos de aceitar. Alguém que se não estivesse presente, as coisas tornar-se-iam mais difíceis, insuportávelmente sufocantes e indestrutíveis. Sei que tenho um alguém assim, e sei que o vou resguardar.