quinta-feira, 29 de março de 2012

Hoje e Amanhã.

Ao teu lado decorrem momentos dos quais não fazes parte. Mas nos quais exerces uma identificação tua. Pedaços de outros que se encaixam em ti, no que já viveste, que te transformam e moldam. Num reviver de tudo aquilo que és feito.
Os laços construídos por alguém, são laços que se soltam ou se amarram, ao mesmo tempo que outro alguém os deixa ir ou os conserva por mais alguns instantes. Tive neste preciso momento, a perfeita noção e a caracterização viva, de que estamos todos juntos num ciclo de amor, ao qual nenhum de nós pertence de uma maneira estável e incondicional. O património que hoje é nosso, já foi de alguém e será património de outrém no futuro.
Simplesmente acontece. Inevitávelmente. Como mudam as estações e se modificam vidas. Desde que te permitas viver, serás uma vítima constante de um 'carrossel' de relações e vivências que permitem crescimento, num envolvimento que não é sólido mas que faz parte do que és. Sempre que o compasso se mantenha, seremos nós e outros. Seremos Hoje e Amanhã. Seremos plural e singular, sempre que nos deixarem ser.

domingo, 25 de março de 2012

Ilusão imparcial.

Grandes respostas nunca nos serão entregues vindas do mundo por nós partilhado. Respostas do género, provém de algo intimamente profundo que encontraremos sempre numa sintonia singular. Respostas que serão próprias e que por mais que queiramos os outros nunca serão capazes de nos dar. Por isso desisto de as encontrar em alguém. Centrar-me-ei em mim. Irei focar-me em tudo o que penso que pode ajudar-me a compreender aquilo que quero. Até porque tenho uma ilusão imparcial do que desejo obter do mundo. Ilusão essa que se vai esbatendo sempre que me esqueço que os outros existem. Sempre que grito pela minha singularidade. Sempre que ignoro o que querem de mim, quando o que querem não me satisfaz.

terça-feira, 20 de março de 2012

Que eu quero ver nascer.

Peço-te que aqueças os meus espaços. Funde-te em perfeição. Deixa apenas o que já foi.
Arrefece pensamentos. Abranda os festejos. Deixa apenas o que já foi.
Melhora o que está presente. Encontra-me e domina-me. Assegura-me em liberdade. Deixa o que já foi, onde o que já foi ficou.
Permanece o espírito destrutivo, prevalecendo novas realidades que eu vou deixando caracterizarem este espaço, que pretendo não ser apenas para mim. Não o quero preencher sobre uma solidão volumosa, sobre temperamentos passados, sobre olhares ofegantes do medo de algo que eu já vi. Quero roubá-lo ao tempo indeterminado, onde os dias não são memórias e onde posso constituir o inesperado, de uma personagem que nunca interpretei. Quero levá-lo até ao teu "timing", ser parte integrante do teu protagonismo e revelar-me perante ti. Mostrar-me despido de tudo e espelhar-me na tua reacção. Apenas quero participar em constantes evidências de uma felicidade una, que eu quero ver nascer.

O quanto me posso dar.

Agrada-me o tempo imperfeito em que não conheço os finais das histórias. Gosto particularmente da forma insólita como conduzo as narrativas que me permitirão alcançar um fim. É verdade que as escrevi como um hábito obessivo numa procura exaustiva de algo que não existia. E eu sabia da não-existência. Soube sempre que seriam idealizações em demasia. Apercebi-me, inicialmente, qual seria a minha condenação. Agora está decidido. Fui forçado a desistir de procurar o melhor de mim em alguém. Alguém exterior a mim. Condenaram-me a permitir-me olhar o meu reflexo e perceber o quão suficiente sou. O quanto me posso dar. O quanto tenho em mim.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Passos em falso.

É arrepiante a forma compulsiva com que consomes parte do que é meu. E às vezes eu não sei. Às vezes eu finjo não saber. Às vezes tento não sentir. E acabo por ceder em ti. Soltar qualquer acto que te mantenha perto. Fazer de ti submisso obsessivo sem nada a perder. Digo-te como deveriam ser as coisas, mas na realidade não sei dizer. Improviso. Permito-te pensar que o meu pragmatismo é real. Deixo-te acreditar que consigo controlar-me quando algo arruinar o momento. Mas, na verdade, eu próprio não ficaria satisfeito. Nem mesmo se soubesse que conseguiria, de alguma forma, reconstruí-lo. Não vou estudando a pessoa que és. Pelo menos conscientemente e de uma maneira calculista. Eu tambem dou passos em falso. Eu tambem corro riscos. Eu tambem poderei "cair".

segunda-feira, 5 de março de 2012

O sabor não tem sabor.

Eu sei que sabes o que sou agora. Sei que sabes os motivos e o que me fez mudar. Sei que sabes os porquês e as dores causadas ridículamente. Eu tambem sei aquilo que és. Sei disso antes de saber o que queria que fosses agora e o que queria que tivesses sido. O que eu me poderia tornar contigo ou o que faria se não pudesse. Transformaria qualquer coisa que impedisse uma ligação a ti.
O sabor não tem sabor se não o partilhar com os teus lábios. E eu sei que gosto de partilhar contigo, sei que gosto que sejas tu, mesmo sem ter algo que me dê certezas disso. Mesmo sem ter alguém que me diga que experimentei. Mesmo sem confirmar que os meus lábios encaixam nos teus, que podes ser parte do meu todo, que tens algo que me pertence a mim.