sábado, 23 de julho de 2011

Só meu.

Parte de mim vive em sufoco perante aquilo que idealizei. Pedaços da minha alma soltaram-se no tempo porque tinham medo que eu os destruisse. Peças do puzzle experimental, tornam-se cada vez mais dinâmicas e encaixam-se em lugares que eu nunca permitiria se estive consciente disso. Tudo em mim se individualizou e ganhou independência perante as minhas próprias acções. Agora já não sou eu que controlo o pouco que ainda podia controlar, já não possuo a vantagem ou desvantagem de submeter tudo e todos às minhas vontades e desejos mais insólitos. Deixei no papel amarelado, onde escrevi os nossos nomes, todas as lembranças de uma pessoa à qual agora não correspondo. Deixei por entre sonhos e ilusões as perspectivas que tinha para a construção de um novo eu. Não vou mais acreditar que podemos mudar aquilo que somos, porque não podemos. É a unica verdade absoluta, aquilo que somos transpõe sempre o nosso íntimo e não se deixa apagar por mais que queiramos. O genuíno é a nossa unica herança final. É próprio, é legítimo e é puro, não nos podemos desfazer dele.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quem me quiser ouvir.

Sabes onde ficou? Ficou tudo na intemporalidade do espaço onde andámos um dia.
Ficou tudo na penumbra dos acontecimentos por ti e por mim provocados. Ficou tudo por entre o desassossego e inquietação de uma revolta que não era só minha. Ficou tudo descrito nas palavras ásperas, amargas e incómodas, dirigidas a ti num momento de perdição. Não são memórias passadas, são recordações intemporais de sentimentos que sei que vou voltar a viver.
Sinto-me singural agora. Sinto-me a recriar um eu cuja existência se tornou desconhecida desde então. Penetram-me laços de desejos e vontades que eu próprio rejeito abraçar, com medo que o resultado seja desastroso. Infiltram-se em mim razões e explicações lógicas para aquilo que eu posso admitir querer viver futuramente. Mas nenhuma razão ou explicação se torna suficientemente capaz de me fazer avançar. Nenhuma é sólida que chegue, para que eu permita que destrua tudo o que deixaste em mim. E vou vivendo sob a procura da dissolução do meu passado, vou vivendo sob a permamente memória de tudo o que errei e de tudo o que não posso voltar a errar. Vou vivendo consciente de que tenho o que é preciso para voltar a sorrir, para voltar a amar, para voltar a ser, para voltar a entregar e receber, para quem me quiser ouvir.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quase-morte.

Tens o real e o imaginário, e nenhum deles é um caminho teu. Porque não são tão confusos como o rasto no areal, deixado por ti ao sair. Tambem só deixaste o rasto, levaste tudo o resto contigo como se tudo te pertencesse. Foi sobre amarras e forças, mantendo-me preso ao chão, que deixei suspenso, por longos momentos, o sentimento que ainda guardava de alguém que um dia foste tu. De alguém que construiu e destruiu, de alguém que amei e odeei, de algúem por quem poderia dar tudo, e de quem nunca esperei nada. Entre um misto de desespero e cólera, desvanece-mos tudo o que nos unia, num plano central de uma história terminada. Eu era o teu guião, representavas segundo momentos meus, aproveitando qualquer situação onde as minhas próprias palavras me atraiçoavam...
Presentemente sinto-me eu, sinto-me um eu singular que se libertou de ti. Deixei as interrupções do passado, delineei uma meta presente, e vou reerguer-me no futuro.
Foi um momento quase-morte, e eu tenho consciência disso.

domingo, 3 de julho de 2011

Taste.

Eu gosto da maneira como o fazes. Gosto de sentir que tens tudo para dar e que posso ser eu a receber. Cada pedaço de mim que tu arranhas e desfias, são pedaços que se soltam porque eu os deixo ir. Acontece sempre que me entrego a um momento teu. Exploras as minhas vontades sem saberes que o estás a fazer, tentas de formas imaginárias chegar ao foco da questão. Talvez não sejas tu a tentar, talvez seja só eu a deixar-me ir ...
Não me interessa de quem é o protagonismo, mas interessa-me saber quem és tu. Quero saber, mais do que tudo, que papel é o teu no filme que passa no meu ecrã. Quero sentir, mais do que já senti, o teu sorriso a rasgar-me o rosto. Seja o que for que eu esteja à espera, não é algo que eu tenho premeditado. Faço tudo porque sinto vontade e impulso para fazer, dou e recebo porque não quero ficar com nada nem com tudo, quero saborear contigo a vitória de te ver sorrir.
Eu vou continuar a fazê-lo. Tu vais continuar a permitir. Talvez um dia o faremos juntos.