quarta-feira, 26 de junho de 2013

Desejado no que eu havia sido.

Foi por todas as vezes que me electrifiquei em ilusões tuas. Sempre que um murmúrio me despertasse a atenção de ti, agarrar-me-ia a isso como se da última vez se tratasse. Entraria por momentos desconhecidos que se perdessem em mim e me deixassem encontrar-te na tua essência. Eu não consigo dar mais do que o tudo, agora posso dizer-te que já fui capaz. Já fui, já não sou. Esqueci-me de todas as vezes que me desvaneci. Da enorme quantidade de súplicas que me sugaram cada gota de pureza matinal. Imaginei-me muitas vezes longe daqui, encontrei-me em diversos contextos ilusórios que me identificavam em tudo o que neles continham. Em nenhum deles estarias tu. Nenhum deles. Porque no desfecho a inconsciência torna-se uma inconstante, voltamos ao que somos e relembramos o imperativo. O imperativo aqui sou eu. Sou eu o de antes. Sou eu o de agora. Serei eu quem há-de vir - vingar-me-ei. Levarei comigo a impiedade dos dias que me roubaram, guardá-la-ei algo indolente sob pélago individual. Não farás parte da inércia contínua dos dias vindouros. Estarás morto. Estarás morto em pensamentos e palavras. Esquecido por entre o meu ego e desejado no que eu havia sido.

terça-feira, 18 de junho de 2013

há noites que são feitas dos meus braços.

"Há noites que são feitas dos meus braços e um silêncio comum às violetas e há sete luas, que são sete traços, de sete noites que nunca foram feitas. Há noites que levamos à cintura, como um cinto de grandes borboletas. Um risco a sangue na nossa carne escura, de uma espada à bainha de um cometa. Há noites que nos deixam para trás enrolados no nosso desencanto. Cisnes brancos que só são iguais à mais longínqua onda do seu canto. Há noites que nos levam para onde o fantasma de nós fica mais perto: e é sempre a nossa voz que nos responde e só o nosso nome estava certo." por Natália Correia.

domingo, 9 de junho de 2013

no teu poema.

No teu poema existe um verso em branco e sem medida. Um corpo que respira, um céu aberto. Janela debruçada para a vida. No teu poema existe a dor calada lá no fundo. O passo da coragem em casa escura. E, aberta, uma varanda para o mundo. Existe um rio. A sina de quem nasce fraco ou forte. O risco, a raiva e a luta de quem cai, ou que resiste. Que vence ou adormece antes da morte. No teu poema existe o grito e o eco da metralha. A dor que sei de cor mas não recito. Os sonos inquietos de quem falha. No teu poema existe a esperança acesa atrás do muro. Existe tudo o mais que ainda escapa. E um verso em branco à espera de futuro. escrito por José Luís.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

um mito a confiar.

Desprendeste-me sempre de mim próprio. Conduziste acções minhas pelo poder omnipresente do calor que mantinhas perto de mim. Nunca foram escolhas singulares e eu nem pretendi que assim fossem. Deixava que ficasses até o teu apetite o desejar, deixava que fosses quando a tua permanência não fizesse mais sentido. Ficaste até hoje. Hoje não faria mais sentido. Hoje o meu corpo não pediria mais calor. Hoje não exigiste mais dependência. Hoje soltamo-nos, para um dia contemplarmos novamente a fusão dos dois. Só acontece hoje, para que o sabor agora amargo a desilusão nos traga num futuro próximo o doce paladar de uma razão que será unanime. Uma resposta que corresponda aos nossos sentidos. Um mito a confiar.

domingo, 2 de junho de 2013

reconciliação pessoal.

Desculpa-me. Desculpa-me todas as vezes que me entreguei e não sabia porquê. Desculpa. Desculpa-me as iluminações das minhas transparências disfarçadas de medo e excitação. Perdoa-me por não te ter esquecido, por não nos ter esquecido. Ignora os míseros milissegundos em que pensei que pudesses ter voltado, que teríamos voltado. A arrogância que trago comigo, foi de ti que a recebi. O medo que eu transporto agora para outros corpos, foi transitório em mim e em ti, quando em união dividíamo-nos em porções iguais. Não existem em mim arrependimentos do que ainda me faz abalar, daquilo que ainda ecoa quando a tua voz é um sentimento ausente e desprotegido de um corpo físico. Eu não tenho em mim espaço para tal enormidade. Não possuo a exactidão dos dias e das horas para que em algum deles me possa golpear por lembranças tuas. Tu tens a liberdade de ir, cedi-a para que a aceitasses. Cedi-a para me proteger. Cedi-a e cedo-a agora uma vez mais, para que em mim a plenitude seja uma constante. Eu quero repousar da atrocidade que representaste, em comunhão com a exigência de uma reconciliação pessoal. - porque no fim "Há Palavras que nos Beijam, como se tivessem Boca".