sábado, 2 de novembro de 2013
herói em horas vagas.
| as esferográficas sujam as pálpebras das palavras, constelando os textos com belos gatafunhos.
estamos deitados à espera que se dissipe o sono e despertem, na dobra do lençol, os fantasmas quotidianos.
o texto autobiográfico irrompe, quase sempre, nos momentos de ócio, nas paragens. | escrevo-te para não me sentir só. risco a palavra capaz de revelar o meu segredo. terei segredos? revelar o quê? se posso rir de mim mesmo sem que isso me doa. apago rapidamente o texto que me reflecte. esfaqueio o rosto que me simula. alinhavo feridas nos pulsos. levo flores à sepultura onde me recolhi para escrever. tenho medo e escrevo-te cartas insensatas. o quarto povoa-se de corpos nascidos duma mancha de tinta. fumo. snifo. fumo cigarro atrás de cigarro. tenho medo. escrevo deitado à luz fraca do candeeiro. o medo solta-se da folha de papel quando o teu reflexo irrompe da máscara que se desfaz.
|O.Medo|Al Berto|
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